Identidade

Depois que Jó orou por seus amigos, o Senhor o tornou novamente próspero e lhe deu em dobro tudo o que tinha antes. (Jó 42:10)

Ainda me lembro como se fosse ontem, dia 05 julho de 2009 o ônibus no qual estava havia chegado ao destino. Havia uma placa bem grande que dizia: “Bem Vindo a Ijuí”. Sinto o mesmo frio quanto o daquele dia em que os termômetros marcavam 0º no oeste gaúcho. Essas viagens em época de férias eram rotina para quem dependia de um trabalho extra neste período para custear seus estudos.

Preguiça e desânimo visitavam meus pensamentos de vez em quando, mas logo desapareciam quando me lembrava que esse trabalho era necessário para garantir minha vaga após as férias.

Confesso que o trabalho com vendas não é fácil. Tentar convencer alguém dentro de sua própria casa a comprar algo não era nada animador. Mas não posso deixar de registrar quantas bençãos Deus me deu neste trabalho inusitado. Ao entrar na casa das pessoas, sentar no safá da sala e começar a conversar sobre variados assuntos era algo interessante. Às vezes me sentia na pele de um terapeuta. Era impressionante como em alguns minutos de conversa as pessoas se abriam e muitas vezes revelavam detalhes surpreendentes sobre suas vidas. Já ouvi história de traições, vingança, desejos incontroláveis, aventuras e etc. Era fácil perceber naquelas pessoas a falta de uma amizade verdadeira, alguém com quem conversar. Parece estranho pensar que muitas vezes eu, um desconhecido, era uma figura em quem as pessoas depositavam sua confiança.

Sempre estava habituado a ouvir a história de vida de muitas pessoas, suas aflições, sonhos e ansiedades. Mas nenhuma daquelas pessoas sabia o que realmente eu estava fazendo ali, o que estava passando na minha mente. Não sabiam que meu sonho dependia de um sim ou não que poderia vir deles próprios. A certa altura desta viagem de trabalho, encontrava-me trabalhando sozinho na cidade de Santa Rosa. Era diferente estar num lugar desconhecido sem ter com quem conversar, mas posso afirmar que foi uma das experiências mais arrebatadoras que pude ter. Ainda posso me lembrar de uma tarde fria e do momento de minha última tentativa de venda que fora inúltil. Aquilo foi o suficiente para algumas lágrimas rolarem e caírem naquele pequeno e duro sofá no qual tentava dormindo.

Após alguns minutos de oração abri a bíblia e li a história de Jó. Parecia que minha situação de desapontamento e decepção era compatível com a de Jó, mas lendo os detalhes da história percebi que Jó perdeu tudo quanto amava inclusive seus amigos, que se afastaram com medo de serem amaldiçoados. Sua situação não era nada fácil e logo percebi que aquele dia de fracasso no qual passei não poderia ser comparado a vida de Jó. Mas algo me chamava atenção na história narrada pela bíblia. Havia alguém de quem Jó não se afastou e suas atitudes demonstravam isso. O fato de Jó estar próximo de Deus e confiar Nele mesmo em provação era algo curioso, pois, naquele tempo acreditava-se que um homem na situação de Jó estava sendo amaldiçoado por Deus. Jó reagiu diferente e permaneceu com Deus e não se entregou aos problemas visíveis, ao invés disso firmou sua confiança no Deus invisível.

Quando leio esta história, penso que Deus era amigo de Jó e isso é diferente da imagem que muitas vezes formamos em nossa mente. Pensamos em Deus como um Ser distante e muito ocupado para atender nossas necessidades. Mas na Bíblia encontramos um Deus que se preocupa, consola, abraça chora ou ri junto com seus filhos. Certamente Deus se preocupou com Jó. Depois que Jó orou por seus amigos, o Senhor o tornou novamente próspero e lhe deu em dobro tudo o que tinha antes. (Jó 42:10)

Precisamos pensar em Deus como alguém que mesmo invisível está próximo de nós. Depende de nós fazer desta amizade algo importante para nossas vidas, mesmo que as situações pareçam adversas, Deus está sempre pronto a nos ajudar. Basta confiarmos Nele, pois Ele é Deus.

Por Marcos Piazzi